A História de Lilith
Se Eva se acusou de ter atraído a morte, o pecado e a tristeza ao mundo, Lilith já era demoníaca desde que foi criada. Lilith surgiu do intento de compreender a diferença entre os mitos da criação de Gênesis, já que em sus primeira história em Gênesis 1, homem e mulher são criados iguais e conjuntamente, enquanto na segunda história, em Gênesis 3, a mulher é criada depois do homem e a partir de seu corpo. Segundo as lendas, Lilith era a primeira esposa, que era bem pior que a segunda. No entanto, a figura escolhida para desempenhar esse papel na lenda judia era originariamente suméria, a resplandecente "Rainha do Céu", cujo nome "Lil" significava "ar" ou "tormenta". As vezes se tratava de uma presença ambígua, amante dos "lugares selvagens e desabitados", associada também com o aspecto obscuro da Deusa Inanna e com sua irmã Ereshkigal, Rainha do Mundo Subterrâneo".
Aparece pela primeira vez no poema sobre Inanna, quando o herói Gilgamesh tala a árvore de Inanna:
"Gilgamesh golpeou a serpente que não podia ser encantada. O pássaro
Anzu voou com suas crias às montanhas; e Lilith aniquilou seu lar e
retirou-se aos lugares selvagens e desabitados."
"Lil" também era a palavra sumero-acádia que designava a "tormenta de
pó" ou "nuvem de pó", um termo que também se aplicava aos fantasmas,
cuja forma era uma nuvem de pó e cujo o alimento era supostamente o pó
da terra. Na língua semítica "liliatu" era então "a criada de um
fantasma", porém prontamente se fundiu com a palavra "layil", "noite", e
se converteu em uma palavra que se designava a um demônio noturno. A
"lílít" do texto hebraico se traduz na versão grega de Septuaginta e por
Lamia na Vulgata latina de São Jerônimo.
As "lamiae" são muito conhecidas nas tradições gregas e latinas, como
monstros voadores noturnos, que sempre aparecem sob o aspecto de
pássaros. A maioria dos autores, afirma que as lamias são monstros
femininos que devoram homens e crianças. Portanto, as lamias e Lilith
têm muitos pontos em comum e foram convertidas em "vampiras". No mito
hebreu, Lilith, portanto, acumulou sem descanso todas as associações à
noite e à morte. é possível que a imagem hebréia de Lilith se baseasse
nas imagens de Inanna-Isthar como Deusa das grandes alturas e de grandes
profundidades, porém, compreensivelmente rebaixada ao ser percebida
desde o ponto de vista de um povo deportado à BABILÔNIA.
Só há uma referência à Lilit, como coruja, no Antigo Testamento. É
encontrada no meio de uma profecia de Isaías. No dia da vingança de
Yahvé, quando a terra se envolverá num deserto,"e um sátiro chamará o
outro; também ali repousará Lilith e nele encontrará descanso." Inanna e
Isthar eram chamadas de "Divina Senhora Coruja" (Nin-nnina Kilili).
Isso pode explicar de onde provêm Lilith e porque era representada como
uma coruja. Uma versão da Criação de Lilith na mitologia Hebréia conta
que Yahvé fez Lilith, como a Adão, porém no lugar de usar terra limpa,
"tomou a sujeira e sedimentos impuros da terra, e deles formou uma
mulher. Como era de se esperar, essa criatura resultou ser um espírito
maligno".
Lilith se converteu a posteriori na primeira esposa de Adão, cuja
presença original nunca terminou de eliminar-se totalmente de de seu
segundo matrimônio. O que falhou no primeiro foi obviamente a
independência de Lilih e sua igualdade com Adão, por isso depois
criou-se Eva. Em conseqüência, a lenda tacha de insubordinação a atitude
por parte de Lilith, pois, segundo a história, se negava a aceitar seu
"lugar apropriado" que aparentemente era permanecer debaixo de Adão
durante a relação sexual: -"Porque teria que ficar debaixo de ti quando
sou tua igual, já que ambos fomos criados de barro?", pergunta ela. Adão
não sabe contestar essa pergunta, de maneira que, pronunciando o nome
mágico de Deus e Lilith se foi voando pelos ares até o Mar Vermelho. Ali
dá à luz a mais de 100 demônios por dia Adão fala de sua esposa a
Yahvé, e esse enviou a sua procura os três anjos Senoi, Sansenoi e
Samanglof, que a encontraram nas margens do Mar Vermelho, onde mais
tarde as tropas egípcias seriam engolidas por ordem de Moisés. Lilith se
negou a voltar a ocupar seu lugar junto de Adão e ameaça dizendo que
possui poder de matar crianças. Então os anjos tentaram afogá-la no Mar
Vermelho, porém Lilith advogou em causa própria e salvou sua vida com a
condição de jamais causar dano a uma criança recém-nascida de onde viera
seu nome escrito. Finalmente Yahvé deu a Lilith, Sammael (Satã), e ela
foi a primeira das quatro esposas do diabo e a perseguidora dos
recém-nascidos. Mas, em conseqüência dessa fala, a ordem divina se
converteu no centro de todas as fantasias de terror que provoca a
sensação de indefesa. Lilith poderia aparecer em qualquer momento da
noite, ela ou algum de seus demônios, para levar uma criança,
aterrorizando os pais dos pequenos. Podia também possuir um homem
durante o sono. Esse constataria que havia caído debaixo de seu poder se
encontrasse restos de sêmen ao despertar. É difícil evitar concluir que
Lilith se converteu em uma imagem de desejo sexual não reconhecido,
reprimido e projetado sobre a mulher, que se converte em sedutora. Por
todos os lugares foram encontrados amuletos contra o "poder" de Lilith.
Através da figura de Lilith, na cultura hebréia, a divisão e polarização
próprias da Idade do Ferra da Grande Mãe em seus aspectos, a Deusa que
dá a vida e a Deusa que atrai a morte, é levada um pouco mais longe. Ao
terror do sofrimento inexplicável que pode manifestar-se sem aviso
prévio e se insere uma dimensão nova da demonização da sexualidade.
O mito em Gênesis, estabelece que é a infração do mandamento de Yahvé, e
não a sexualidade, a causa da expulsão do Paraíso à condição humana; e o
conhecimento do bem e do mal, que alcançaram através da desobediência,
tampouco se pode explicar em termos de conhecimento sexual. No entanto,
tanto a desobediência como o conhecimento se associaram com a
sexualidade porque a primeira coisa que Adão e Eva "viram" quando "seus
olhos se abriram" foi que estavam nus. Antes disso, andavam nus e sem
vergonha. A nudez, portanto, se converteu em sexualidade pecaminosa,
especialmente quando a serpente fálica entra na especulação teológica.
Em certas ocasiões a serpente era identificada como Lilith e se
desenhava a serpente com um corpo de mulher, interpretando-se que a dita
criatura era Lilith. Outras vezes a serpente tinha um rosto como o de
Eva. Por esta razão, uma percepção da sexualidade como algo "não
divino", invade as lendas de Lilith como aspecto escuro de Eva.
Mas, o papel de Lilith parece não terminar quando se une a Satã, aliás,
muito pelo contrário. Segundo Zohar (Hhadasch, seção Yitro, p.29),
depois participa da perdição de Adão, ao qual Yahvé (Jehová) concede
como segunda esposa a Eva, nascida da sua própria costela, ou seja, à
imagem do homem, o reflexo do homem, ou a imagem castrada de Adão.
"Depois de que o Tentador (Sammael) houvera desobedecido ao Santíssimo,
bendito seja, o Senhor o condenou a morrer". A Cabala faz eco desta
tradição (Livro Emek-Ammelehh, XI), que Sammael será castigado: "Esse
dia, Yahvé visitará com sua terrível espada a Leviatã, a serpente
insinuante, que é Sammael, e a Leviatã, a serpente sinuosa, que é
Lilith.
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